Consulta de ginecologia. Chega ela, de 62 anos, segundo marido. Este em tratamento para câncer.
Sigo um roteiro. Há vinte anos ela fez histerectomia e ooforectmia (retirou útero e ovários), sendo assim, está em menopausa cirúrgica desde então, mas faz terapia de reposição hormonal. Vem ao consultório para fazer um “check up”.
Último exame preventivo de câncer de colo uterino e vagina há oito meses. Não há porque repetir. Refere dor ao urinar. Já diagnostica cistite, pois teve outros episódios.
Continuo no roteiro. Chego em história sexual. Travo. Não sei qual a razão de perguntar sobre isso. Ela ainda tem vida sexual, aos 62 anos, com um segundo marido com câncer? Tem. Uma vez por semana. Quando foi sua primeira vez? Não sei como perguntar. O médico-professor intervem. Não consigo perguntar sobre sua vida sexual. Não sei porque, mas travei. O provessor me cutuca com uma brincadeira. Até a paciente brinca comigo. Mas travei. Meu provessor teve que intervir e me ajudar. Ela refere ter orgasmos e vontade de fazer sexo. Mas eu não consegui perguntar. No caso, não faria diferença para o diagnóstico, mas em outro caso? Poderia ser muito relevante e a paciente não ter referido se não fosse perguntada.
A paciente era bem resolvida e levou tanto a consulta quanto seu exame ginecológico tranquilamente. O único que teve problemas fui eu.
Ela não tinha nada, foi feita uma rotina laboratorial e pedido que ela voltasse quando tivesse os exames em mãos. Também foi tratada sua infecção de bexiga. Será que também fui eu tratado? Acho que sim. Não sei se estou curado, mas foi uma experiência importante.