Acordara com a cabeça explodindo e a boca seca, resultado da noite anterior. A vontade era atirar o despertador contra a parede e voltar a dormir até o apocalipse. Não podia. Levantou-se e começou a arrumar a mochila, tinha que pegar a estrada.
Mochila pronta, hora do desjejum. Caminhou até o mercadinho na esquina de sua casa. Pegou alguma coisa para comer, um salgado, um pastel, alguma coisa assim, não importava realmente. Um refrigerante para acompanhar.
Foi para o caixa. A sua frente um tipo que chamou sua atenção, não para o bem. Repreendeu-se pelo preconceito. Outro com cara de piá, uns dezesseis, dezessete anos, bigode ralo, se é que pode ser chamado de bigode, nos cantos da boca, moleton escuro, bermuda estampada, tênis tipo skatista. O estereótipo do vagabundo, como diriam em um programa de televisão. Imaginou o que faria no caso de um assalto. Tinha alguma experiência com armas e com defesa pessoal. Divagou até a moça do caixa, uma senhora magra, de óculos, com cara frágil, chamar o próximo. Era ele.
Passou o café da manhã e estendeu o cartão para pagar. Ela perguntou para o moleque se ele queria alguma coisa. Um maço de cigarros, pediu. Algo mais? Sim, o dinheiro do caixa. É um assalto. Sacou uma pistola pequena e a apoiou no balcão, apontando para a caixa.
O comprador travou, carteira em mãos, mochila nas costas. Infelizmente o estereótipo era verdadeiro. Fazer o quê? Tentar desarmar o assaltante que apontava para a caixa? Sacar sua arma e fazer queijo suíço do meliante? Dar voz de prisão? Não, nenhuma dessas era uma opção viável. Manteve-se imóvel. O ladrão pegou os trocados que estavam no caixa e evadiu-se. Tudo durou, o quê? Um minuto? Dois?
A sensação de impotência. A banalização da violência. Sei lá.
Dizem que não é pecado se não sentir prazer, mas tem quase certeza que gostaria de deixar o vagabundo agonizando em uma poça de seu próprio sangue.