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Tenho lido e assistido muita coisa sobre grandes feitos, homens outrora comuns enfrentando a adversidade de peito aberto. No lema dos fuzileiros navais dos Estados Unidos: “adaptar, sobressair, sobreviver”.
Pessoas que enfrentaram todas as adversidades, que tinham tudo para falhar e sobressairam. Ou pereceram com honra e glória, sem se acovardar diante das chances e das dificuldades.
O que mais me tem feito pensar são histórias de alpinistas, de exploradores antárticos e de militares. Uma das biografias mais interessantes foi a de um irlandês chamado Tom Crean, que participou de três expedições antárticas no começo do século vinte. Ele participou da tentativa de chagar ao pólo sul com o Sir Robert Scott. Este pereceu depois de atingir o seu objetivo. Aquele quase morreu na jornada de volta, uma vez que ele não participou do ataque ao pólo. Depois de retornar para casa apesar de toda a dificuldade, o que ele decide? Ir novamente para a região mais inóspita do planeta. Nessa vez com a expedição do Sir Ernest Shackleton, em mais uma ocasião, ou série de ocasiões em que a vida foi posta à prova e contra todas as probablilidades quase todos voltaram, num exemplo de coragem, resistência e loucura.
Também li sobre alguns alpinistas em suas malfadadas histórias de escaladas. Encarando o frio, a fome, a dor, a doença com o instinto de sobrevivência e pelos desígnios da Fortuna, deusa romana da sorte, voltaram para casa.
Ou os Comandos britânicos conduzindo uma missão que tinha tudo para dar errado, a ida seria complicada, a chegada ainda mais difícil, a execução da missão insana e a volta beirando o impossível. Mesmo assim não faltaram voluntários e a missão foi cumprida. Talvez com mais sorte do que juízo.
Além disso assisti um seriado, daqueles estilo pós-apocalíptico, em uma Terra dizimada por uma invasão alienígena, um punhado de humanos luta pela sobrevivência e resistência contra a invasão, contra inimigos mais numerosos, mais fortes, com melhores condições e armas. Eles lutam até chegarem em uma cidade, um grupo de sobreviventes vivendo sob os escombros de uma cidade, no subterrâneo, em relativa paz. Depois de mais de ano lutando para sobreviver, lutando um pela vida do outro, eles chegam à segurança e à paz.
E agora?
No seriado, a pediatra que por ser a única médica do grupo passou a ser médica de combate, tratando ferimentos em situações de vida ou morte se vê de volta com narizes escorrendo, dor de garganta…
O alpinista que atinge a montanha o cume desejado, após breve alegria, tem que descer, e na descida já pensa em outro cume, ou outra escalada, um pouco mais difícil, um pouco mais perigosa.
O soldado que viu vários de seus companheiros morrerem e volta para casa com a “culpa do sobrevivente”. Com a sensação de que poderia ter feito alguma coisa diferente. O soldado que depois de um ano no Afeganistão, sob fogo praticamente dia sim, dia também, comendo, dormindo, conversando, vivendo e morrendo em uma comunidade fechada, onde você se preocupa mais em proteger o próximo do que a si mesmo, em que um depende do outro, a vida do outro depende de ti, e vice-versa, depois disso, volta para o anonimato e isolamento das refeições congeladas, das camas de casal solitárias, das portas trancadas, dos trabalhos repetitivos, mundanos, sem significado.
No exército dizem que “a merda é a argamassa da união”. Quem passa pela dificuldade junto forma laços muito fortes. Mas e depois?
Depois de fazer alguma coisa que vá ecoar na história, como voltar para o mundano?
E como viver na rotina pensando no desafio? Em como ser posto à prova? Em descobrir que você pode adaptar, sobressair e sobreviver? Ou morrer tentando?
E agora?