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Ando descrente, meio que com tudo, e isso não é novidade.
O Brasil passa por um momento de protestos e descontentamento geral com o governo, com o Estado, com as instituições públicas… Indo para a rua e dizendo que o gigante acordou (de novo). Para mim, vai apertar o soneca e voltar a dormir novamente, porque o problema não está no Planalto, nas altas cúpulas, na elite formadora de opinião e tomadora de decisões. Nosso problema somos nós. É intrínseco. A diferença entre nós, povo, e nossos governantes é a quantidade de poder. Eles são mais corruptos porque eles podem corromper mais, têm mais poder para isso.
Abraham Lincoln tem uma frase muito interessante, que apesar de ter sido dita há uns duzentos anos não poderia ser mais atual. Diz ele que praticamente qualquer homem pode suportar a adversidade, mas se você quiser testar o caráter de um homem, dê-lhe poder.
Nosso nível de corrupção é proporcional ao nosso poder. Esses dias ouvi um colega de profissão criticar o governo e depois de alguns minutos dizer que havia pedido que uma companhia que fornece medicamentos para o hospital onde ele trabalha pagasse uma passagem e inscrição para um congresso médico e que com a recusa do intermediário da empresa ele ameaçou trocar de fornecedor. “Me ajuda a te ajudar”.
Mas já estou digredindo para um ponto que não era o que eu queria quando comecei a escrever (para variar), então voltemos ao motivo de eu escrever agora.
Ontem, de plantão na rodovia, em uma base que fica na via marginal, um pouco afastada da principal, estávamos próximos ao horário da troca de plantão conversando em frente à base quando um jovem estaciona seu carro na contra-mão e sobre a calçada, na frente da base. Fui até ele pedir que retirasse o carro dali e estacionasse em outro lugar. Ele me olhou e disse que não, pois só ia levar a namorada até o ponto de ônibus, alguns metros a frente e não iria demorar. Insisti que estacionasse próximo, na rua lateral. “Mas ali é proibido estacionar”, me diz ele. Claro, porque estacionar em cima da calçada e na contra-mão pode, porque é só pra esperar o ônibus. Puto da cara e me sentindo impotente virei as costas e voltei para onde estavam meus colegas.
Liguei para a Polícia Rodoviária Federal, que é responsável pelas vias marginais, e tem base a menos de dois quilômetros da nossa base. Falaram que mandariam uma viatura para averiguar a situação.
Obviamente o ônibus chegou, a namorada se foi, e ele também, antes que a polícia chegasse. Mas não foram dois minutinhos, passaram-se bem uns vinte minutos daquela situação.
Eu queria ser um otimista como as pessoas que têm ido para as ruas manifestar-se contra o atual governo, queria acreditar que a culpa é de um partido, de um punhado de pessoas, que se fora do poder as coisas vão melhorar, que os protestos vão resultar numa moralização dos políticos. Mas como diria na terminologia do exército, estamos dando lição de moral de cueca.
Já que estamos em um dia de citações, termino com a letra de uma música do Kreator (quiçá um nome um pouco contradotório para a música, apesar de criação e destruição não serem necessariamente opostos).
Society failed to tolerate me
And I have failed to tolerate society
Still I can’t find what you adore
Inside I hear the echoes of an inner war
Nothing can take the horror from me
Your sick world the loss of all morality
My hate has grown as strong as my confusion
My only hope, my only solution
Is a violent revolution